
Psicólogo
Gilmar Miranda


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Luto é um processo. Uma sucessão de mudanças, adaptações emocionais e de sentimentos. Uma “técnica” que a vida provém para o enlutado, porque apesar da dor e sofrimento, a vida deve e vai continuar. Ela precisa continuar viva.
O luto não é só sobre a perda de uma pessoa querida e amada. Abrange outras perdas, na intensidade e valor que cada um dá a essa ausência ou privação do que possuía.
Entre esses eventos de perdas, que desencadeiam o luto, se encontra a morte por um animal de estimação; o diagnóstico de uma patologia grave (perda da saúde); divórcio; sonhos ou objetivos não alcançados; demissões; fim de um ciclo produtivo (aposentadoria); acidentes com prejuízos físicos (amputações) que impedem uma atividade; perdas nos negócios; término de um namoro; frustrações sobre a idealização e desejos paternos em relação a uma criança/filho (sonhos dos pais não concretizados); perda de um patrimônio. Esses são alguns dos exemplos.


A morte de um animal de estimação é um dos lutos mais severos, gerando muita angústia e sofrimento. É como se morresse uma pessoa. A perda dessa ligação afetiva, machuca e dói muito, apesar de algumas pessoas acharem isso uma dor “descartável”.
É o luto não reconhecido. É como se o enlutado não tivesse “autorização” para sentir essa perda, o que aumenta o seu sofrimento, por não ter com quem compartilhar, devido a incompreensão da sua dor.
Vale lembrar que a participação nos rituais que marcam a despedida, colabora muito para que o enlutado elabore a sua perda.
Perdas. É sobre isso que o luto aflora.
Poderíamos dizer, então, que esse processo de elaboração é a maneira para dizer, que sem luto não há vida.
Aliás, pare e pense: sem lutos, não há vida, pois não existem movimentos do viver. As perdas fazem parte do pacote da vida. Mas é algo que “esquecemos”, o nosso próprio psiquismo nos protege de pensarmos nessa finitude ou o que amamos vai um dia partir.
Eu sei, é difícil pensar assim, mas o luto é a vida lhe dizendo, que se precisa do amor para viver uma perda. Amor por você, em descobrir sentido de vida na perda. Com certeza, quem partiu, gostaria que você fosse feliz, não paralisasse a sua vida no sofrer e deixasse de viver esse dom, com o qual você foi premiado. A sua existência.
E entender, que luto, apesar do sentimento sofrido é um processo de afeto. O luto só existe porque existe o amor. Começando por você.
Quem passa pelo luto, não fica imune as mudanças. Não será a mesma pessoa. Ocorrerão transformações e descobertas, que irão moldar esse ser enlutado, para viver com a ausência. Porque a vida precisa continuar, até porque, o processo de luto serve para isso: aprender a viver com a falta, a ter a saudade no coração, naquele espaço da perda.
Não existe um padrão, um período de duração ou intensidade dos sintomas desagradáveis. É uma dor sem tempo para acabar, mas pode ser amenizada com apoio.
O fundamental é que se entenda o sentido desse processo e essa compreensão é individual. Vai variar de pessoa para pessoa, dependendo da história de vida do enlutado, do seu envolvimento com a perda, do seu perfil psicológico, do significado, da predisposição a um distúrbio psiquiátrico, das condições emocionais do momento em que ocorreu a perda.
Esses são fatores que expõe o indivíduo a sofrer, com mais intensidade ou menos, a dor do luto.
Cada um tem o seu ritmo, o seu momento, a sua intensidade de expressão da dor e a maneira como procede para a sua resolução e aceitar a realidade. Todos esses elementos interferem nessa compreensão.
O luto é um processo que precisa ser elaborado, não é um modo de ser ou estar, é complexo, mas dentro da normalidade. Constitui uma série de sintomas que se manifestam em fases distintas e que pode ter um efeito nocivo ao estado físico e mental da pessoa, durante o seu desenvolvimento.
Altera o funcionamento do organismo humano e até animais sentem a perda do companheiro.
Ocorrem somatizações, sendo comum a queixa de dores de cabeça; mal estar no estômago; ânsia de vomito; ter picos de pressão alta; alterações do sono e da alimentação; angústia; ansiedade; estresse, causando uma queda de imunidade e facilitando para que doenças oportunistas se manifestem; queda do nível de atenção, que pode levar a riscos de acidentes; diminuição do rendimento, com prejuízos das atividades ocupacionais; crises de choro e a possibilidade da perda de consciência (desmaios), quando confrontado com o evento real da perda e dor.
Uma das características do luto é a presença da dor acompanhada de intensa ansiedade e o pesar pela ausência de alguém ou animal que lhe é querido, expressada por crises de choro ou verbalizando a ausência.
Nada substitui, pessoa ou animal, porque o luto ocorre onde o amor impera e o amor é insubstituível.
Não é se conformar, mas entender que a vida vai continuar na ausência e que é seu compromisso vivê-la da melhor forma possível.
Você acha que não vai mais ser feliz?
Sim, vai! Só depende de você. Porque não existe vida feliz, com presença ou ausência. Existe construção de vida feliz. E é você quem vai construir a sua, através das descobertas, de outros significados e de outra forma de vivenciar a vida.
Você vai aprender a natureza da vida, que tem início e fim, mas entre eles, existe o viver e é nesse espaço, que a saudade será saudada, com os momentos felizes vividos juntos.
Parece difícil entender e aceitar isso, com o turbilhão de sentimentos desconfortáveis presentes, de acordo com o seu momento.
Mas, quando você conseguir se comunicar e dialogar com a falta, ou seja, o sofrimento vai dando lugar ao entendimento, você estabeleceu a saudade, que permanecerá e você saberá viver com a ausência da causa do seu amor e conviver pacificamente com a saudade. O luto fez o seu papel.
Porque o luto é o processo de travessia entre o desespero pela falta, para a serenidade da presença da saudade, uma lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo suave de quem ou o que nos deixou.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Parkes C. M. - Luto - Estudos sobre as perdas na vida adulta - 3° edição, Summus Editorial, São Paulo, 1998.
2. Ross E. K. – Sobre a morte e o morrer, Editora W M F Martins Fontes Ltda., São Paulo, 2012.